quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Dentaduras duplas!


Dentaduras duplas!

Inda não sou bem velho
para merecer-vos...
 Há que contentar-me
com uma ponte móvel
 e esparsas coroas.
(Coroas sem reino,
os reinos protéticos
de onde proviestes
quando produzirão
a tripla dentadura,
 dentadura múltipla,
a serra mecânica,
 sempre desejada,
 jamais possuída,
que acabará
 com o tédio da boca,
 a boca que beija,
a boca romântica?...)

Resovin! Hecolite!
Nomes de países?
Fantasmas femininos?
Nunca: dentaduras,
engenhos modernos,
práticos, higiênicos,
a vida habitável:
a boca mordendo,
 os delirantes lábios
 apenas entreabertos
num sorriso técnico,
e a língua especiosa
através dos dentes
buscando outra língua,
 afinal sossegada...
A serra mecânica
 não tritura amor.
E todos os dentes
extraídos sem dor.
E a boca liberta
das funções poético-
sofístico-dramáticas
 de que rezam filmes
 e velhos autores.

Dentaduras duplas:
 dai-me enfim a calma
que Bilac não teve
para envelhecer.
 Desfibrarei convosco
doces alimentos,
serei casto, sóbrio,
não vos aplicando
na deleitação convulsa
de uma carne triste
 em que tantas vezes
me eu perdi.


Largas dentaduras,
vosso riso largo
 me consolará
não sei quantas fomes
ferozes,secretas
no fundo de mim.
Não sei quantas fomes
 jamais compensadas.
Dentaduras alvas,
antes amarelas
e por que não cromadas
 e por que não de âmbar?
de âmbar! de âmbar!
feéricas dentaduras,
admiráveis presas,
mastigando lestas
e indiferentes
a carne da vida!

  

Na primeira estrofe, o eu lírico, revela não precisar das ''Dentaduras Duplas'', pela sua idade ainda não ser tão avançada, ele usa uma espécie de sátira ao descrever que se contenta com suas pontes e coroas esparsas (aparentemente, canais), ele usa também uma estrutura em que uma palavra se parece com a outra, dando a sensação de que uma puxa a outra de uma maneira simples.
Os nomes citados no início do 2° estrofe são remédio para dor, que podem fazer referência tanto para a colocação de dentaduras quanto para a "dor" de envelhecer.
Na 3° estrofe, o eu lírico diz "dai-me enfim a calma que Bilac não teve para envelhecer". Ao envelhecer, as pessoas se dão conta que tem muito mais passado do que futuro. Algumas pessoas durante esse processo, acabam esquecendo alguns prazeres, o eu lírico diz que irá desfibrar alimentos e que será casto, não tendo prazer a uma carne triste que tantas as vezes o fez se perder.
Na última estrofe, ele retrata de uma forma mais universal como vistas nas outras estrofes a vida, ele descreve nos versos, que o sorriso largo das dentaduras, consolariam as decepções vividas, e sentimentos guardados dentro dele, no fim ele usa uma metáfora aparentemente crítica a vida,nos versos em que diz: '' Mastigando lestas e indiferentes a carne da vida! '', pois se refere as situações em que vivemos.

(Alunas: Lisandra e Nathália).

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