(Aluna: Mayara S. S. Brait Murcia).
terça-feira, 10 de setembro de 2013
Mundo grande
Mundo
grande
Nao, meu coração não é maior que o mundo.
Ê muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo.
Por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens.
as diferentes dores dos homens.
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que elo estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai’ inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos —— voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de invidíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar.
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
— Ó vida futura! nós te criaremos
Ê muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo.
Por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.
Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.
Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens.
as diferentes dores dos homens.
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem... sem que elo estale.
Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! vai’ inundando tudo...
Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos —— voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de invidíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam.)
Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.
Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar.
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio
Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.
Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
— Ó vida futura! nós te criaremos
Análise: Mundo grande (Poema da obra Sentimento do mundo),
de Carlos Drummond de Andrade
A obra pública em 1940 do poeta brasileiro, Sentimento do Mundo é uma obra que trás
e deixa claro o amadurecimento diante a sociedade em que ele se deparava, como
a Segunda Guerra Mundial , no Brasil o governo de Vargas e o mundo entrando em
decadência.Ainda em seus poemas, revela a sua preocupação com o mundo , trazendo temos políticos e sociais.
O seu amadurecimento, a nova e ampla visão da
humanidade está em muitos poemas , um
deles seria Mundo Grande onde percebe
que o mundo esta tomando novos caminhos. Ele deixa claro que reconhece que há
muita maldade no mundo , muitas discussões , muitas guerras e conflitos porém
acredita que pode haver esperanças de que um dia tudo possa melhorar , que nós
, a sociedade, que para um futuro melhor e mais “saudável” precisamos de
solidariedade , bondade e saber dar respeito a cada um.
Na passagem “Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos —— voltarão?” ele questiona se ainda é possível salvar a humanidade , se podemos viver em um mundo onde fecharemos os olhos e só nos preocuparemos com o som da chuva batendo a janela. “Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar. ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio” aqui ele faz uma ironia onde só em países imaginários é possíveis ter acesso fácil de habitação tranquila, onde não há problemas , onde não há exaustão que leve ao suicídio. E para encerrar o poema termina com a estrofe “Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode” que diz exatamente que por trás disso tudo a vida futura pertence a nós , devemos perceber que precisamos uns dos outros para dizer “. — Ó vida futura! nós te criaremos”
Os homens submersos —— voltarão?” ele questiona se ainda é possível salvar a humanidade , se podemos viver em um mundo onde fecharemos os olhos e só nos preocuparemos com o som da chuva batendo a janela. “Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar. ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio” aqui ele faz uma ironia onde só em países imaginários é possíveis ter acesso fácil de habitação tranquila, onde não há problemas , onde não há exaustão que leve ao suicídio. E para encerrar o poema termina com a estrofe “Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode” que diz exatamente que por trás disso tudo a vida futura pertence a nós , devemos perceber que precisamos uns dos outros para dizer “. — Ó vida futura! nós te criaremos”
(Aluna: Mayara S. S. Brait Murcia).
Canção do berço
Canção do berço
O amor não tem importância.
No tempo de você, criança,
uma simples gota de óleo
povoará o mundo por inoculação,
e o espasmo
(longo demais para ser feliz)
não mais dissolverá as nossas carnes.
Mas também a carne não tem importância.
E doer, gozar, o próprio cântico afinal é indiferente.
Quinhentos mil chineses mortos, trezentos corpos
[de namorados sobre a via férrea
e o trem que passa, como um discurso, irreparável:
tudo acontece, menina,
e não é importante, menina,
e nada fica nos teus olhos.
Também a vida é sem importância.
Os homens não me repetem
nem me prolongo até eles.
A vida é tênue, tênue.
O grito mais alto ainda é suspiro,
os oceanos calaram-se há muito.
Em tua boca, menina,
ficou o gosto do leite?
ficará o gosto de álcool?
Os beijos não são importantes.
No teu tempo nem haverá beijos.
Os lábios serão metálicos,
civil, e mais nada, será o amor
dos indivíduos perdidos na massa
e só uma estrela
guardará o reflexo
do mundo esvaído
(aliás sem importância).
Análise
O poema faz parte de uma coletânia da obra de Carlos
Drummond de Andrade Sentimento do mundo, publicado em 1940. Este período
é marcado em que o mundo se recuperava da Primeira Guerra Mundial, fato este que
ficou conhecido como Grande Guerra, ou Guerra das Guerras, foi um conflito mundial ocorrido entre Agosto
de 1914 a 11 de Novembro de 1918. A guerra ocorreu entre a Tríplice Entente
(liderada pelo Império Britânico, França, Império Russo (até 1917) e Estados
Unidos (a partir de 1917) que derrotou a Tríplice Aliança (liderada pelo
Império Alemão, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano). A guerra
causou o colapso de quatro impérios e mudou de forma radical o mapa
geo-político da Europa e do Médio Oriente. Não muito distante deste conflito. a
Segunda Guerra Mundial, ou II Guerra Mundial foi um conflito militar global que
durou de 1939 a 1945, envolvendo a maioria das nações do mundo – incluindo
todas as grandes potências, e o
crescimento do Nazi-fascismo, percebe-se em Drummond a luta, a contestação,
pela palavra, das atrocidades que o mundo parecia aceitar (“Tudo acontece,
menina / E não é importante, menina”). Drummond lançou-se ao encontro da
história contemporânea e da experiência coletiva, participando,
solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de
sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo.
Através deste poema Drummond transmite a mensagem de que desde o berço o
destino está marcado: o amor, a carne, a vida e os beijos não têm importândcia
imediata que a sociedade de consumo lhe dá.
Pode se obervar no poema um tipo de conhecimento baseado no determinismo e nas
experiências negativas centradas num tipo de discurso dogmático: " o amor
não tem importância(..)" . Tudo isto à primeira vista parece uma antífrase
profetizante que nos mostra um poeta descrente da autenticidade do amor a
partir dos comportamentos mecanizados e formalizados adotados pelos homens de
seu tempo, que priorizavam a mecanização sobre os sentimentos puros e naturais.
(Alunos: Lucas Paz e Jonathas).
Indecisão de Méier
“Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam
para não criar, todas as noites, o problema da opção
e evitar a humilde perplexidade dos moradores?
Ambos com a melhor artista e a bilheteira mais bela,
que tortura lançam no Méier!”
Interpretação:
No poema Indecisão de Méier de Carlos Drummond
de Andrade, o autor relata sua indecisão relacionada ao cotidiano em que as
pessoas, no geral, vivem. Expõe sua dúvida em relação as indecisões entre
escolhas que precisa fazer durante um “dia”, e propõe soluções como nos
três primeiros versos:
“Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam
para não criar, todas as noites, o problema da opção
e evitar a humilde perplexidade dos moradores?”
Mas ao mesmo tempo que gera a solução, gera
também a dúvida como nos últimos versos: “Ambos
com a melhor artista e a bilheteira mais bela, que tortura lançam no Méier!”
Portanto, não há solução que beneficiem ambos os lados, há somente as escolhas entre duas situações, que nos permite a indecisão para a análise e
escolha da melhor que nos satisfaça.
(Alunos: Lucas Paz e Jonathas).
Menino que chorava na noite
Menino que chorava
na noite
Na noite lenta e morna,
morta noite sem ruído,
um menino chora.
O choro atrás da parede,
a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados,
das vozes extenuadas,
e, no entanto,
se ouve até o rumor da gota de remédio
caindo na colher.
Um menino chora na noite,
atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora,
em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.
E vejo a mão que levanta a colher,
enquanto a outra sustenta a cabeça
e vejo o fio oleoso
que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade,
um fio apenas.
E não há mais ninguém no mundo
A não esse menino chorando.
morta noite sem ruído,
um menino chora.
O choro atrás da parede,
a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados,
das vozes extenuadas,
e, no entanto,
se ouve até o rumor da gota de remédio
caindo na colher.
Um menino chora na noite,
atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora,
em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.
E vejo a mão que levanta a colher,
enquanto a outra sustenta a cabeça
e vejo o fio oleoso
que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade,
um fio apenas.
E não há mais ninguém no mundo
A não esse menino chorando.
Interpretação:
O poema Menino que chorava a noite foi escrito por
Drummond e nele, o poeta quis mostrar que na época em que estava vivendo com o Nazismo
e a Ditadura Militar, ainda sim poderia ter fraternidade e solidariedade por
trás de tanto poder na mão de uma pessoa só, a figura do menino no poema quer
simbolizar a vida e melhores condições para todas as pessoas envolvidas nesses
processos que o mundo estava envolvido.
(Alunas: Fernanda
Magretti e Thaís Lopes ).
Congresso internacional do medo- sentimentos do mundo
Congresso internacional do medo
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.
É intrigante ver alguém falar
de medo com tamanha coragem!
O eu lírico fala do medo como
se estivesse presente em sua vida, ou já houvera enfrentado. Não se fala em
amor, pois o amor se esconde sobre o medo de amar, e nem do ódio, pois acredita
que não existe. O ponto forte é um medo
da vida, medo de se arriscar em aventuras, medo que não te deixa ir a lugar
algum, medo de religiosidade medo de comando. Medo que questiona a morte e que teme
como será depois. E encerra então que aquele que vive de medo leva para seu
túmulo sonhos que foram acabados por medos, e sobre nossos túmulos nascerão
amarelas flores medrosas.
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
O operário no mar
O operário no mar
Na rua passa
um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na blusa
azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos
enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma
significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai
ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o
campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios,
os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e
trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não
ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no
campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde
vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca
foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja
eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo:
uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele,
sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar lhe que suste a marcha. Agora está
caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de
navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices
no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o
passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo
que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes
escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A
palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um
minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias
atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de
ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas
líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as
medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de
compreensão.
Sim, quem sabe se um dia o compreenderei?
Sim, quem sabe se um dia o compreenderei?
Interpretação
:
Esse poema
conta a trajetória de um operário que de acordo com a descrição, aparenta ser
um homem sofrido, exausto por conta do trabalho pesado, com marcas no corpo,
misterioso, mas determinado.É possível deduzir que há uma angústia tomando
conta do operário pela forma que é descrito.
Ele ( o
operário ) anda em direção a um campo concentrado . Não repara em nada ao seu redor , além da
água que corre e do calor que faz adiante .
Não há amizade entre o narrador e o operário .
O narrador o observa , aparentemente , de um casa a algo semelhante e deseja fazê-lo parar sua
caminhada , nem que para isso tenha que implorar . Pela aflição do narrador ,
parece que o operário tem intenções de fazer algo ruim . Aos olhos do narrador
, o operário não é puro , inocente e santo e até o mar tem medo dele , nem o
exército o impediu de continuar sua caminhada , agora explícita , em direção ao
mar
Ele está cansado , pálido e confuso , mas
sorri para o narrador , e esse sorriso atravessa tudo ( estão muito distantes
um do outro ) e chega para beijar o rosto do narrado , trazendo esperança de
compreender o operário
Com
base nessa interpretação , é possível concluir que o operário era um homem
triste sofrido . O narrador não o compreendia , mais não o odiava . Ao caminhar
em direção ao mar, é suicídio , talvez . Ao sorrir em meio ao mar , pode-se
ver em alivio , como de quem encontra solução para todos os problemas . Talvez
esse poema seja um desabafo do autor , após sentir a dor de perder um filho.
(Alunos: Myke e Eduardo).
Inocentes do Leblon
Inocentes do Leblon
Os
inocentes do Leblon
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe emigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.
não viram o navio entrar.
Trouxe bailarinas?
trouxe emigrantes?
trouxe um grama de rádio?
Os inocentes, definitivamente inocentes, tudo ignoram,
mas a areia é quente, e há um óleo suave
que eles passam nas costas, e esquecem.
Introdução
Quando
o eu lirico fala Os inocentes do Leblon não viram o navio entrar ele quis
criticar a burguesia que não se preocupava com que estava acontecendo no mundo
e fingiam que não enxergavam os navios que traziam imigrantes para o Brasil.
No trecho Trouxe bailarinas? Trouxe
imigrantes? Trouxe uma grama de rádio? ele questiona esses navios estavam
trazendo para o Brasil; que na verdade Prostitutas e fugitivos da 2° Guerra
Mundial que traziam com ele uma grande radiação nos corpos por causa da
guerra.
No último verso do poema, Carlos Drummond
de Andrade volta a afirmar que a Burguesia se fingia de “Inocentes” e ignorava
tudo o que estava acontecendo no Brasil, pois enquanto os navios estavam
trazendo os imigrantes a Burguesia ficava na praia se bronseando, se divertindo, eles continuavam com os seus lazeres e simplesmente esqueciam dos problemas.
(Alunos:
Alexandre e Henrique).
Privilégio do mar
Privilégio do mar
Neste terraço mediocremente confortável,
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.
O edifício é sólido e o mundo também.
Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vem cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.
O mundo é mesmo de cimento armado.
Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!
Podemos beber honradamente nossa cerveja.
bebemos cerveja e olhamos o mar.
Sabemos que nada nos acontecerá.
O edifício é sólido e o mundo também.
Sabemos que cada edifício abriga mil corpos
labutando em mil compartimentos iguais.
Às vezes, alguns se inserem fatigados no elevador
e vem cá em cima respirar a brisa do oceano,
o que é privilégio dos edifícios.
O mundo é mesmo de cimento armado.
Certamente, se houvesse um cruzador louco,
fundeado na baía em frente da cidade,
a vida seria incerta... improvável...
Mas nas águas tranqüilas só há marinheiros fiéis.
Como a esquadra é cordial!
Podemos beber honradamente nossa cerveja.
Introdução
No
poema Privilégio do mar, Carlos Drummond de Andrade fala sobre os problemas sociais das diferenças humanas.
Drummond faz uma ironia sobre a segurança
no mundo. O poeta cria uma situação em que um grupo bebe cerveja na terraço de
um edifício enquanto todos olham o mar.
Privilégio do mar é uma critica à alienação
burguesa. O poeta inclui-se, não se mobiliza e desfruta de certa
tranqüilidade, privilegiada em sua moradia.
(Alunos: Alexandre e Henrique).
Sentimento do mundo
Sentimento
do mundo
(Poema da obra Sentimento do mundo), de Carlos Drummond de Andrade
Tenho apenas duas mãos
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
e o sentimento do mundo,
mas estou cheio escravos,
minhas lembranças escorrem
e o corpo transige
na confluência do amor.
Quando me levantar, o céu
estará morto e saqueado,
eu mesmo estarei morto,
morto meu desejo, morto
o pântano sem acordes.
Os camaradas não disseram
que havia uma guerra
e era necessário
trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Quando os corpos passarem,
eu ficarei sozinho
desfiando a recordação
do sineiro, da viúva e do microcopista
que habitavam a barraca
e não foram encontrados
ao amanhecer
esse amanhecer
mais noite que a noite.
Interpretação
do poema
No poema Sentimento do
mundo, o eu lirico mostra tais limitações dele perante a época, pensa em seu
futuro pessimista, diz que ele estará morto e seus desejos estarão mortos. Há até
um certo medo “do futuro”.
No final da terceira estrofe, ele pede desculpas por não conseguir se expressar de maneira clara e não muito
objetiva. Nas últimas estrofes, o
eu lirico diz ”quando os corpos passarem”ele quer dizer que ficará sozinho, com apenas
recordações.
De uma forma geral, o poema é
negativo, com certos receios e medos!
(Alunas: Ana Paula e Sabrina).
ODE NO CINQUENTENÁRIO DO POETA BRASILEIRO
ODE NO CINQUENTENÁRIO DO POETA BRASILEIRO
Esse incessante morrer
que nos teus versos encontro
é tua vida, poeta,
e por ele te comunicas
com o mundo em que te esvais.
Debruço-me em teus poemas
e nelo percebo as ilhas
em que nem tu nem nós habitamos
(ou jamais habitaremos!)
e nessas ilhas me banho
num sol que não é dos trópicos,
numa água que não é das fontes
mas que ambos refletem a imagem
de um mundo
amoroso e patético.
Tua violenta ternura,
tua infinita polícia,
tua trágica existência
no entanto sem nenhum sulco
exterior – salvo tuas rugas,
tua gravidade simples,
a acidez e o carinho simples
que desbordam em teus retratos,
que capturo em teus poemas,
são razões por que te amamos
e por que nos fazes sofrer…
Certamente não sabias
que nos fazes sofrer.
É didícil explicar
esse sofrimento seco,
sem qualquer lágrima de amor,
sentiment de homens juntos,
que se comunicam sem gesto
e sem palavras se invadem,
se aproximam, se compreendem
e se calam sem orgulho.
Não é o canto da andorinha, debruçada nos telhados da Lapa,
anunciando que a tua vida passou à toa, à toa.
Não é o médico mandando exclusivamente tocar um tango argentino,
diante da escavação no pulmão esquerdo e do pulmão direito infiltrado.
Não são os carvoeirinhos raquíticos voltando encarapitados nos burros velhos.
Não são os mortos do recife dormindo profundamente na noite.
Nem é tua vida, nem a vida do major veterano da guerra do Paraguai,
a de Bentinho Jararaca
ou a de Christina Georgina Rossetti:
és tu mesmo, é tua poesia,
tua pungengente, inefável poesia,
ferindo as almas, fogo celeste, ao visitá-las;
é o fenômeno poético, de que te constituíste o misterioso portador
e que vem trazer-nos na aurora o sopro quente dos mundos, das armadas exuberantes
e das situaçãoes exemplares que não suspeitávamos.
Por isso sofremos: pela mensagem que nos confias
entre ônibus, abafada pelo pregão dos jornais e mil queixas operárias;
essa insistente mas discreta mensagem
que, aos cinquenta anos, poeta, nos trazes;
e essa fidelidade a ti mesmo com que nos apareces
sem uma queixa, no rosto entretanto experiente,
mão firme estendida para o aperto fraterno
- o poeta acima da guerra e do ódio entre os homens -,
o poeta ainda capaz de amar Esmeraldas embora a alma anoiteça,
o poeta melhor que nós todos, o poeta mais forte
- mas haverá lugar para a poesia?
Efetivamente o poeta Rimbaud fartou-se de escrever,
o poeta Maiakovski suicidou-se,
o poeta Schmidt abastece de água o Distrito Federal…
Em meio a palavras melancólicas,
ouve-se o surdo rumor de combates longínquos
(cada vez mais perto, mais, daqui a pouco dentro de nós).
E enquanto homens suspiram, combatem ou simplesmente ganham dinheiro,
ninguém perecebe que o poeta faz cinquenta anos,
que o poeta permanece o mesmo, embora alguma coisa de extraordinário se houvesse passado,
alguma coisa encoberta de nós, que nem os olhos traíram nem as mãos apalparam, susto, emoção, enternecimento,
desejo de dizer: Emanuel, disfarçado na meiguice elática doa abraços,e uma confiança maior no poeta
e um pedido lancinante para que não nos deixe sozinhos nesta cidade em que nos sentimos pequenos à espera dos maiores acontecimentos.
"Que o poeta nos encaminhe e nos proteja
e que o seu canto confidencial ressoe para consolo de muitos e esperança de todos,
os delicados e os oprimidos, acima das profissões e dos vãos disfarces do homem.
Que o poeta Manuel Bandeira escute este apelo de um homem humilde."
Interpretação:
O poeta se expressa profundamente ao falar a respeito da vida de um poeta, de como ele se comunica pela sua poesia. E ao analisar os poemas, o
eu lírico se leva ao local que o poema descreve e imagina a imagem de um mundo
melhor. Onde não haveria tantos perigos como no “mundo real” e é apenas nos
poemas que ele consegue ver esse mundo pelo qual gostaria de viver. O eu lírico
expressa também o que acontece na realidade, dos sofrimentos por amor. Não seria nem o
canto da andorinha, nem o médico mandando tocar algo que os fizesse melhorar,
mas sim os poemas! E que sofremos por causa das mensagens que o eu lírico nos
passa as vezes por alimentar uma falsa esperança dentro de nós. E se pergunta
onde há lugar para a poesia. Fala de poetas que já se foram, e se questiona do
por que os homens suspiram, combatem ou simplesmente querem ganhar dinheiro e
não conseguem perceber que o poeta faz cinquenta anos e permanece os mesmo. E deseja que o poeta
encaminhe e os proteja para que console
a esperança de todos os delicados e oprimidos, acima de profissões e de seus
vãos disfarces, e no final pede que o poeta Manuel Bandeira escute esse apelo
de um humilde homem.
(Aluna: Larissa).
Morro da babilônia
Morro da babilônia (Carlos Drummond
de Andrade)
À noite, do morro
descem vozes que criam o terror
(terror urbano, cinquenta por cento de cinema,
e o resto que veio de Luanda ou se perdeu na língua
geral).
Quando houve revolução, os soldados se
Espalharam no morro,
O quartel pegou fogo, eles não voltaram.
Alguns, chumbados, morreram.
O morro ficou mais encantado.
Mas as vozes do morro
Não são propriamente lúgubres.
Há mesmo um cavaquinho bem afinado
que domina os ruídos da pedra e da folhagem
e desce até nós, modesto e recreativo,
como uma gentileza do morro.
Interpretação:
O poema fala
que a noite no morro tem vários perigos onde vozes (gritos) apavoram todos,
isso acontece quando cinqüenta por cento
é quando pessoas saem do cinema e os outros cinquenta são por
estrangeiros que ali visitam. Quando teve a revolução no morro, todos se
espalharam para uma batalha de poder, ocorrendo mortes. A batalha acabou e o
morro ficou mais encantado porque as vozes do morro não se calam porque vai
ter sempre um cavaquinho para afastar os ruídos que ali tanto os perturbava mostrando
sempre a gentileza e compartilhando
alegria.
(Alunas: Fernanda e Tainá).
Lembrança do Mundo Antigo
Lembrança
do Mundo Antigo
Clara passeava no jardim
com as crianças.
O céu era verde sobre o gramado
A água era dourada sob as pontes
Outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados
O guarda-civil sorria, passavam bicicletas
A menina pisou a relva para pegar um pássaro
O mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em redor de Clara.
As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas
Esperava cartas que custavam a chegar
Nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!
O céu era verde sobre o gramado
A água era dourada sob as pontes
Outros elementos eram azuis, róseos, alaranjados
O guarda-civil sorria, passavam bicicletas
A menina pisou a relva para pegar um pássaro
O mundo inteiro, a Alemanha, a China, tudo era tranquilo em redor de Clara.
As crianças olhavam para o céu: não era proibido.
A boca, o nariz, os olhos estavam abertos. Não havia perigo.
Os perigos que Clara temia eram a gripe, o calor, os insetos.
Clara tinha medo de perder o bonde das 11 horas
Esperava cartas que custavam a chegar
Nem sempre podia usar vestido novo. Mas passeava no jardim, pela manhã!
Havia jardins, havia manhãs naquele tempo!
Interpretação
Comparando com o mundo em que vivemos, o mundo de Clara
era bem mais tranquilo, puro, uma natureza mais bela, as pessoas eram mais
felizes. Aos olhos de Clara, esse mundo era perfeito, havia inocência,
liberdade. Esse poema, de certa forma, é uma crítica social, pois ainda hoje há
jardins e manhãs, mas não com a mesma pureza de antes, não com a mesma paz e
bondade retratadas na obra. O eu lírico demonstra saudades desse lugar, onde
não havia maldade, violência.
“Estamos no melhor dos mundos possíveis.” - Leibniz
(Alunas: Letícia, Viviane Teodoro e Raquel).
Mãos Dadas
Mãos Dadas
Não serei
o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei
o cantor de uma mulher, de uma história
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
Não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é
a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes
A vida presente.
A vida presente.
Interpretação
Nesse poema, podemos perceber que o eu lírico não
acredita que o mundo seja capaz de absorver seus poemas, os quais ele considera
muito mais que simples palavras, a ponto de identificá-la como uma canção.
Nota-se também que não há um apego material da parte do eu lírico, pelo
contrário, ele valoriza seus companheiros e o tempo presente.
(Alunas: Letícia, Viviane Teodoro e Raquel).
Os mortos de Sobrecasaca
Os mortos de Sobrecasaca
Havia a um canto da sala
um álbum de fotografias intoleráveis,
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.
Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas.
alto de muitos metros e velho de infinitos minutos,
em que todos se debruçavam
na alegria de zombar dos mortos de sobrecasaca.
Um verme principiou a roer as sobrecasacas indiferentes
e roeu as páginas, as dedicatórias e mesmo a poeira dos retratos.
Só não roeu o imortal soluço de vida que rebentava
que rebentava daquelas páginas.
Interpretação: No canto da sala existia um álbum de fotografia dos
antepassados. As pessoas que viviam ali zombavam das fotografias dos mortos
neste álbum, ali existiam fotos e memórias da família e também boas lembranças
vividas.
Neste álbum havia fotografias velhas, desbotando-se e ficando com
tons amarelos onde se registrava a eternidade do passado.
(Alunas: Thaís Paixão e Giovanna).
BRINDE NO JUÍZO FINAL
BRINDE NO JUÍZO FINAL
Poeta de camiseiro chegou vossa hora,
Poetas de elixir de inhame e tonofosfã,
Chegou vossa hora, poetas do bonde e do rádio,
Poeta jamais acadêmicos, último ouro do Brasil.
Em vão assassinaram a poesia nos livros,
Em vão houve putsch, tropas de assalto, depurações.
Os sobreviventes aqui estão poetas honrados,
Poetas diretos da Rua Larga.
(As outras ruas são muito estreitas,
Só nesta cabem a poeira,
O amor
E a Light.)
Interpretação: Este poema de Drummond fala sobre a sobrevivência
da poesia e também homenageia os poetas populares contra os acadêmicos. Podemos
observar que além de falar dos "poetas honrados" ele também cita no
poema as mortes e catástrofes. Ele quer passar para o leitor que a
poesia também não é só feita de temas nobres, só de coisas bonitas, mas que existem coisas banais, como mortes, catástrofes e reflexões cotidianas.
O Título "Brinde do Juízo Final" quer dizer que Drummond está
brindando esta poesia, que anteriormente era considerada ridícula.
(Alunas: Thaís Paixão e Giovanna).
quinta-feira, 5 de setembro de 2013
Dentaduras duplas!
Dentaduras duplas!
Inda não sou bem velho
para merecer-vos...
Há que contentar-me
com uma ponte móvel
e esparsas coroas.
(Coroas sem reino,
os reinos protéticos
de onde proviestes
quando produzirão
a tripla dentadura,
dentadura múltipla,
a serra mecânica,
sempre desejada,
jamais possuída,
que acabará
com o tédio da boca,
a boca que beija,
a boca romântica?...)
Resovin! Hecolite!
Nomes de países?
Fantasmas femininos?
Nunca: dentaduras,
engenhos modernos,
práticos, higiênicos,
a vida habitável:
a boca mordendo,
os delirantes lábios
apenas entreabertos
num sorriso técnico,
e a língua especiosa
através dos dentes
buscando outra língua,
afinal sossegada...
A serra mecânica
não tritura amor.
E todos os dentes
extraídos sem dor.
E a boca liberta
das funções poético-
sofístico-dramáticas
de que rezam filmes
e velhos autores.
Dentaduras duplas:
dai-me enfim a calma
que Bilac não teve
para envelhecer.
Desfibrarei convosco
doces alimentos,
serei casto, sóbrio,
não vos aplicando
na deleitação convulsa
de uma carne triste
em que tantas vezes
me eu perdi.
Largas dentaduras,
vosso riso largo
me consolará
não sei quantas fomes
ferozes,secretas
no fundo de mim.
Não sei quantas fomes
jamais compensadas.
Dentaduras alvas,
antes amarelas
e por que não cromadas
e por que não de
âmbar?
de âmbar! de âmbar!
feéricas dentaduras,
admiráveis presas,
mastigando lestas
e indiferentes
a carne da vida!
Na primeira estrofe, o eu lírico, revela não precisar das ''Dentaduras
Duplas'', pela sua idade ainda não ser tão avançada, ele usa uma espécie de
sátira ao descrever que se contenta com suas pontes e coroas esparsas
(aparentemente, canais), ele usa também uma estrutura em que uma palavra se
parece com a outra, dando a sensação de que uma puxa a outra de uma maneira
simples.
Os nomes citados no início do 2° estrofe são remédio para
dor, que podem fazer referência tanto para a colocação de dentaduras quanto
para a "dor" de envelhecer.
Na 3° estrofe, o eu lírico diz "dai-me enfim a calma
que Bilac não teve para envelhecer". Ao envelhecer, as pessoas se dão
conta que tem muito mais passado do que futuro. Algumas pessoas durante esse
processo, acabam esquecendo alguns prazeres, o eu lírico diz que irá desfibrar
alimentos e que será casto, não tendo prazer a uma carne triste que tantas as
vezes o fez se perder.
Na última estrofe, ele retrata de uma forma mais universal
como vistas nas outras estrofes a vida, ele descreve nos versos, que o sorriso
largo das dentaduras, consolariam as decepções vividas, e sentimentos guardados
dentro dele, no fim ele usa uma metáfora aparentemente crítica a vida,nos
versos em que diz: '' Mastigando lestas e indiferentes a carne da vida! '',
pois se refere as situações em que vivemos.
(Alunas: Lisandra e Nathália).
La Possession du monde
Os
homens célebres visitam a cidade.
Obrigatoriamente
exaltam a paisagem.
Alguns
se arriscam no Mangue,
outros
se limitam ao Pão de Açúcar,
mas
somente Georges Duhamel
passou
a manhã inteira no meu quintal.
Ou
antes, no quintal vizinho do meu quintal.
Sentado
na pedra, espiando os mamoeiros,
conversava
com eminente neurologista.
Houve
uma hora em que ele se levantou
(em
meio a erudita dissertação científica).
Ia,
talvez, confiar a mensagem da Europa
aos
corações cativos da jovem América...
Mas
apontou apenas para a vertical
e
pediu ce cocasse fruit jaune.
Carlos Drummond de Andrade
Análise
Neste
poema, Carlos Drummond faz uma ironia ao escritor, poeta e pesquisador francês
Georges Duhamel, em 1884, Duhamel sempre foi mais ligado na parte ‘coração’ do
ser humano em meio ao grande período de desenvolvimento científico que
acontecia no mundo.
A ironia acontece quando ele ao invés de
fazer grandes pesquisas pelo país, se rende a uma árvore e ficar por horas
observando-a, e ao final pede uma fruta amarela (‘’ce cocasse fruit jaune’’),
porque assim como diz o titulo (‘’LA
POSSESSION DU MONDE’’), teria o mundo em suas mãos.
(Alunas: Mirelle e Juliene).
Bolero de Ravel
Bolero de Ravel
A alma
ativa e obcecada
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia
Infinita, infinitamente...
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto
esquiva ondulação evanescente
Os olhos, magnetizados, escutam
e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa
está presa...
Os tambores abafam a morte do Imperador...
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia
Infinita, infinitamente...
As mãos não tocam jamais o aéreo objeto
esquiva ondulação evanescente
Os olhos, magnetizados, escutam
e no círculo ardente nossa vida para sempre está presa
está presa...
Os tambores abafam a morte do Imperador...
Carlos Drummond de Andrade
Análise do poema
No poema em análise, Drummond faz referência à obra mais
famosa de Maurice Ravel, sendo notável a intertextualidade principalmente pelo
título, o ritmo inalterável e a melodia uniformemente repetitiva das obras.
O eu lírico descreve subjetivamente a um dos “sentimentos do
Mundo”, os desejos impossíveis existentes em cada ser.
Nos versos do poema, pode-se perceber a angústia pela certeza
da impossibilidade de poder, um dia, alcanças os seus objetivos: “Infinita,
infinitamente... / as mãos não tocam jamais o aéreo objeto”.
Bolero de Ravel é uma obra instrumental que mantém um ritmo
inalterado, remetendo-nos a uma sensação de monotonia. Ao usar essa referência,
o autor demostra o sentimento de descrença em uma melhoria – fato que podermos
considerar relacionado ao contexto histórico que o escritor vivia, uma época de
governo totalitarista e opressor.
(Alunas: Mirelle e Juliene).
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