terça-feira, 10 de setembro de 2013

Mundo Grande (Vídeo)



(Aluna: Mayara S. S. Brait Murcia).

Mundo grande


Mundo grande
Nao, meu coração não é maior que o mundo. 
Ê muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
 
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo.
Por isso me grito,
por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:
preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão.
 
Viste as diferentes cores dos homens.
as diferentes dores dos homens.
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
 
num só peito de homem... sem que elo estale.

Fecha os olhos e esquece.
 
Escuta a água nos vidros,
 
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
 
tão calma! vai’ inundando tudo...
 
Renascerão as cidades submersas?
 
Os homens submersos —— voltarão?
 
Meu coração não sabe.
 
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
 
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
 
(Na solidão de invidíduo
 
desaprendi a linguagem
 
com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,
 
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
 
Nunca escutei voz de gente.
 
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar.
ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio

Meus amigos foram às ilhas.
 
Ilhas perdem o homem.
 
Entretanto alguns se salvaram e
 
trouxeram a notícia
de que o mundo, o grande mundo está crescendo todos os dias,
entre o fogo e o
 amor.

Então, meu coração também pode crescer.
 
Entre o amor e o fogo,
 
entre a vida e o fogo,
 
meu coração cresce dez metros e explode.
— Ó vida futura! nós te criaremos

Análise: Mundo grande (Poema da obra Sentimento do mundo), de Carlos Drummond de Andrade
A obra pública em 1940 do poeta brasileiro, Sentimento do Mundo é uma obra que trás e deixa claro o amadurecimento diante a sociedade em que ele se deparava, como a Segunda Guerra Mundial , no Brasil o governo de Vargas e o mundo entrando em decadência.Ainda em seus poemas, revela a sua preocupação com o mundo , trazendo temos políticos e sociais.
 O seu amadurecimento, a nova e ampla visão da humanidade está em  muitos poemas , um deles seria Mundo Grande onde percebe que o mundo esta tomando novos caminhos. Ele deixa claro que reconhece que há muita maldade no mundo , muitas discussões , muitas guerras e conflitos porém acredita que pode haver esperanças de que um dia tudo possa melhorar , que nós , a sociedade, que para um futuro melhor e mais “saudável” precisamos de solidariedade , bondade e saber dar respeito a cada um.
Na passagem “Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos —— voltarão?”
ele questiona se ainda é possível salvar a humanidade , se podemos viver em um mundo onde fecharemos os olhos e só nos preocuparemos com o som da chuva batendo a janela. “Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar. ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio”
aqui ele faz uma ironia onde só em países imaginários é possíveis ter acesso fácil de habitação tranquila, onde não há problemas , onde não há exaustão que leve ao suicídio. E para encerrar o poema termina com a estrofe “Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo, entre a vida e o fogo, meu coração cresce dez metros e explode
” que diz exatamente que por trás disso tudo a vida futura pertence a nós , devemos perceber que precisamos uns dos outros para dizer “. — Ó vida futura! nós te criaremos”

(Aluna: Mayara S. S. Brait Murcia).

Canção do berço


Canção do berço 

O amor não tem importância.
No tempo de você, criança,
uma simples gota de óleo
povoará o mundo por inoculação,
e o espasmo
(longo demais para ser feliz)
não mais dissolverá as nossas carnes.

Mas também a carne não tem importância.
E doer, gozar, o próprio cântico afinal é indiferente.
Quinhentos mil chineses mortos, trezentos corpos
[de namorados sobre a via férrea
e o trem que passa, como um discurso, irreparável:
tudo acontece, menina,
e não é importante, menina,
e nada fica nos teus olhos.

Também a vida é sem importância.
Os homens não me repetem
nem me prolongo até eles.
A vida é tênue, tênue.
O grito mais alto ainda é suspiro,
os oceanos calaram-se há muito.
Em tua boca, menina,
ficou o gosto do leite?
ficará o gosto de álcool?

Os beijos não são importantes.
No teu tempo nem haverá beijos.
Os lábios serão metálicos,
civil, e mais nada, será o amor
dos indivíduos perdidos na massa
e só uma estrela
guardará o reflexo
do mundo esvaído
(aliás sem importância).

Análise

O poema faz parte de uma coletânia da obra de Carlos Drummond de Andrade Sentimento do mundo, publicado em 1940. Este período é marcado em que o mundo se recuperava da Primeira Guerra Mundial, fato este que ficou conhecido como Grande Guerra, ou Guerra das Guerras,  foi um conflito mundial ocorrido entre Agosto de 1914 a 11 de Novembro de 1918. A guerra ocorreu entre a Tríplice Entente (liderada pelo Império Britânico, França, Império Russo (até 1917) e Estados Unidos (a partir de 1917) que derrotou a Tríplice Aliança (liderada pelo Império Alemão, Império Austro-Húngaro e Império Turco-Otomano). A guerra causou o colapso de quatro impérios e mudou de forma radical o mapa geo-político da Europa e do Médio Oriente. Não muito distante deste conflito. a Segunda Guerra Mundial, ou II Guerra Mundial foi um conflito militar global que durou de 1939 a 1945, envolvendo a maioria das nações do mundo – incluindo todas as grandes potências,  e o crescimento do Nazi-fascismo, percebe-se em Drummond a luta, a contestação, pela palavra, das atrocidades que o mundo parecia aceitar (“Tudo acontece, menina / E não é importante, menina”). Drummond lançou-se ao encontro da história contemporânea e da experiência coletiva, participando, solidarizando-se social e politicamente, descobrindo na luta a explicitação de sua mais íntima apreensão para com a vida como um todo.
Através deste poema Drummond transmite a mensagem de que desde o berço o destino está marcado: o amor, a carne, a vida e os beijos não têm importândcia imediata que a sociedade de consumo lhe dá.
Pode se obervar no poema um tipo de conhecimento baseado no determinismo e nas experiências negativas centradas num tipo de discurso dogmático: " o amor não tem importância(..)" . Tudo isto à primeira vista parece uma antífrase profetizante que nos mostra um poeta descrente da autenticidade do amor a partir dos comportamentos mecanizados e formalizados adotados pelos homens de seu tempo, que priorizavam a mecanização sobre os sentimentos puros e naturais.


(Alunos: Lucas Paz e Jonathas).



Indecisão de Méier


Indecisão de Méier

“Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam
para não criar, todas as noites, o problema da opção
e evitar a humilde perplexidade dos moradores?
Ambos com a melhor artista e a bilheteira mais bela,
que tortura lançam no Méier!”


Interpretação:

No poema Indecisão de Méier de Carlos Drummond de Andrade, o autor relata sua indecisão relacionada ao cotidiano em que as pessoas, no geral, vivem. Expõe sua dúvida em relação as indecisões entre escolhas que precisa fazer durante um “dia”, e propõe soluções como nos três       primeiros versos:
“Teus dois cinemas, um ao pé do outro, por que não se afastam
para não criar, todas as noites, o problema da opção
e evitar a humilde perplexidade dos moradores?”
Mas ao mesmo tempo que gera a solução, gera também a dúvida como nos últimos versos: “Ambos com a melhor artista e a bilheteira mais bela, que tortura lançam no Méier!”
Portanto, não há solução que beneficiem ambos os lados, há somente as escolhas entre duas situações, que nos permite a indecisão para a análise e escolha da melhor que nos satisfaça.
 (Alunos: Lucas Paz e Jonathas).

Menino que chorava na noite


Menino que chorava na noite

Na noite lenta e morna,
morta noite sem ruído,
um menino chora.
O choro atrás da parede,
a luz atrás da vidraça
perdem-se na sombra dos passos abafados,
das vozes extenuadas,
e, no entanto,
se ouve até o rumor da gota de remédio
caindo na colher.

Um menino chora na noite,
atrás da parede, atrás da rua,
longe um menino chora,
em outra cidade talvez,
talvez em outro mundo.

E vejo a mão que levanta a colher,
enquanto a outra sustenta a cabeça
e vejo o fio oleoso
que escorre pelo queixo do menino,
escorre pela rua, escorre pela cidade,
um fio apenas.
E não há mais ninguém no mundo
A não esse menino chorando.


Interpretação:

O poema Menino que chorava a noite  foi escrito por Drummond e nele, o poeta quis mostrar que na época em que estava vivendo com o Nazismo e a Ditadura Militar, ainda sim poderia ter fraternidade e solidariedade por trás de tanto poder na mão de uma pessoa só, a figura do menino no poema quer simbolizar a vida e melhores condições para todas as pessoas envolvidas nesses processos que o mundo estava envolvido.

(Alunas: Fernanda Magretti  e  Thaís Lopes   ).

Congresso internacional do medo- sentimentos do mundo


Congresso internacional do medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.




É intrigante ver alguém falar de medo com tamanha coragem!
O eu lírico fala do medo como se estivesse presente em sua vida, ou já houvera enfrentado. Não se fala em amor, pois o amor se esconde sobre o medo de amar, e nem do ódio, pois acredita que não existe.  O ponto forte é um medo da vida, medo de se arriscar em aventuras, medo que não te deixa ir a lugar algum, medo de religiosidade medo de comando. Medo que questiona a morte e que teme como será depois. E encerra então que aquele que vive de medo leva para seu túmulo sonhos que foram acabados por medos, e sobre nossos túmulos nascerão amarelas flores medrosas.

(Aluna: Fernanda Strazza).

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

O operário no mar


O operário no mar 

Na rua passa um operário. Como vai firme! Não tem blusa. No conto, no drama, no discurso político, a dor do operário está na blusa azul, de pano grosso, nas mãos grossas, nos pés enormes, nos desconfortos enormes. Esse é um homem comum, apenas mais escuro que os outros, e com uma significação estranha no corpo, que carrega desígnios e segredos. Para onde vai ele, pisando assim tão firme? Não sei. A fábrica ficou lá atrás. Adiante é só o campo, com algumas árvores, o grande anúncio de gasolina americana e os fios, os fios, os fios. O operário não lhe sobra tempo de perceber que eles levam e trazem mensagens, que contam da Rússia, do Araguaia, dos Estados Unidos. Não ouve, na Câmara dos Deputados, o líder oposicionista vociferando. Caminha no campo e apenas repara que ali corre água, que mais adiante faz calor. Para onde vai o operário? Teria vergonha de chamá-lo meu irmão. Ele sabe que não é, nunca foi meu irmão, que não nos entenderemos nunca. E me despreza... Ou talvez seja eu próprio que me despreze a seus olhos. Tenho vergonha e vontade de encará-lo: uma fascinação quase me obriga a pular a janela, a cair em frente dele, sustar-lhe a marcha, pelo menos implorar lhe que suste a marcha. Agora está caminhando no mar. Eu pensava que isso fosse privilégio de alguns santos e de navios. Mas não há nenhuma santidade no operário, e não vejo rodas nem hélices no seu corpo, aparentemente banal. Sinto que o mar se acovardou e deixou-o passar. Onde estão nossos exércitos que não impediram o milagre? Mas agora vejo que o operário está cansado e que se molhou, não muito, mas se molhou, e peixes escorrem de suas mãos. Vejo-o que se volta e me dirige um sorriso úmido. A palidez e confusão do seu rosto são a própria tarde que se decompõe. Daqui a um minuto será noite e estaremos irremediavelmente separados pelas circunstâncias atmosféricas, eu em terra firme, ele no meio do mar. Único e precário agente de ligação entre nós, seu sorriso cada vez mais frio atravessa as grandes massas líquidas, choca-se contra as formações salinas, as fortalezas da costa, as medusas, atravessa tudo e vem beijar-me o rosto, trazer-me uma esperança de compreensão.
Sim, quem sabe se um dia o compreenderei? 


Interpretação :

Esse poema conta a trajetória de um operário que de acordo com a descrição, aparenta ser um homem sofrido, exausto por conta do trabalho pesado, com marcas no corpo, misterioso, mas determinado.É possível deduzir que há uma angústia tomando conta do operário pela forma que é descrito.
  Ele ( o operário ) anda em direção a um campo concentrado .  Não repara em nada ao seu redor , além da água que corre e do calor que faz adiante .
  Não há amizade entre o narrador e o operário . O narrador o observa , aparentemente , de um casa  a algo semelhante e deseja fazê-lo parar sua caminhada , nem que para isso tenha que implorar . Pela aflição do narrador , parece que o operário tem intenções de fazer algo ruim . Aos olhos do narrador , o operário não é puro , inocente e santo e até o mar tem medo dele , nem o exército o impediu de continuar sua caminhada , agora explícita , em direção ao mar
  Ele está cansado , pálido e confuso , mas sorri para o narrador , e esse sorriso atravessa tudo ( estão muito distantes um do outro ) e chega para beijar o rosto do narrado , trazendo esperança de compreender o operário
Com base nessa interpretação , é possível concluir que o operário era um homem triste sofrido . O narrador não o compreendia , mais não o odiava . Ao caminhar em direção ao mar, é suicídio , talvez . Ao sorrir em meio ao mar , pode-se ver em alivio , como de quem encontra solução para todos os problemas . Talvez esse poema seja um desabafo do autor , após sentir a dor de perder um filho.

(Alunos: Myke e Eduardo).